Esse é o nosso espaço para encontros: Teatro de rua, poesias, pensamentos, textos de espetáculos, informações sobre a Trupe Circuluz e a Palhaça Keke Kerubina. Faço Circo e Teatro de rua,na rua,com a rua,da rua.
sábado, 13 de novembro de 2010
REFLEXÕES! SALVE SALVE PLÍNIO MARCOS
palhaços...para mim, Bobo Plin, um palhacinho de merda que começava a engatinhar nos picadeiros mal iluminados das espeluncas...saber desses palhaços só serviu para me tolher. Quanto mais eu sabia deles, mais e mais Bobo Plin, o palhaço que eu queria ser, se enroscava nas minhas entranhas. A referência esmagava minha intuição e provocava auto-censura. A comparação, maldita inimiga da igualdade, fazia dos magníficos histriões elementos inibidores da minha criatividade. Agora, Bobo Plin não quer saber da façanha desses belos palhaços. Não quer vê-los. Nem quer saber de seus bigodes, sapatões, guizos, pompoms, bolas, balões e babados. A magia dos grandes artistas não pode ser ensinada; são segredos que se aprende com o coração.
Essa magia se manifesta quando se resolve fazer a própria alma. Para Bobo Plin se irmanar com os grandes palhaços que luziram nos palcos e picadeiros tem que se esquecer deles para sempre. Não pode recolher nenhuma indicação deixada no caminho. Tem que andar sem bússola, na mais tenebrosa escuridão. Qualquer brilho, qualquer estrela, qualquer sol, qualquer referencial vira um ponto hipnótico embrutecedor. E eu quero fazer a minha alma."
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Fotos da Mobilização do Teatro e Circo e de Rua
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
RELATO DA MOBILIZAÇÃO DO DIA 23 DE AGOSTO DE 2010
A policia com seu trailler, que mais parece uma casa, não queria nem que chegassemos perto da sua cabine?!
será que somos contagiosos ou contagiantes!?
Ainda bem que nessas minhas jornadas de 10 anos no teatro de rua me deram a sabedoria de comprar uma extensão bem grande, quebra um galho! pois sempre alcança um ser humano generoso,
A qustão da luz foi resolvida e iniciamos nosso ato, mais dai apareceu o povo dos papeis das autorizações,queriam nos expulsar dali, então batemos o pé não arredamos e ate queriamos que eles fizessem alguma coisa, afinal nossa intenção era chamar atenção da midia, dos politicos, das instituições de todos...
Mas, que pena! eles ficaram com receio, e nos deixaram fazer a mobilização...
Tivemos poesia, musica, performance com a Palhaça Flori d'Bar
A chuva deu o ar de sua graça, e nosso som não quiz mais funcionar, e então fizemos tudos no gogo, o povo passava olhava, ficava um tantinho e depois se ia nas sua proprias lutas e conquistas, um desses anônimos conhecidos pegou o nosso pandeiro e fez côro conosco em nossas batucadas , maravilha...
Eramos poucos, mas conscientes desta ação
Ao final conversando com o Valber da rede de artes cenicas, falou algo que só refleti depois, com o corpo já mais relaxado:"- precisamos puxar a orelha na rede, na hora a conquista é para todos...
Valber estava certo! muitos não estavam presentes naquele ato, e muitos eram os motivos, afinal de contas lembro bem, quando foi chamado o ato para combater o tal Edital universal da SECMa, era mais quem se pronunciava, claro era um ato que versava sobre recursos...Porem este ato do dia 23 versa sobre o direito!
Então eu refleti. Quem optou por não lutar pelos seus direitos foi quem saiu perdendo, eu e todos os que se fizeram presente na Praça Deodoro, saimos alimentados, empoderados, afinal percebemos que quando queremos, podemos e devemos estar na rua sem autorizações, é preciso radicalizar, neste ato me senti mais do teatro de rua do que em qualquer apresentação que já tenha feito, pois gritamos, e nos apoderemos do que é nosso!
A mensagem foi levada, a conquista deu seus passos
Quando tiver outra dessas eu to lá...
por isso enumero e agradeço, em nome do Movimento de Circo e Teatro de Rua no Maranhão, meu amigos de sol e chuva neste inesquecível dia 23 de agosto de 2010
Dathy Bezerra e a Palhaça Florid'bar que estreou seu novo sapato, sapato de militante!-Cia Chegança
Afonso Bagui - com sua poetica de Castro Alves- Cia Chegança
Célida Braga - voando como passaro- cia Huhuhu de Circo e teatro
Valberlucio Pereira - Produtor Cultural - mostrando sua facetas de musico e cantor
Iure Olinda - como ele mesmo diz "pau pra toda obra"
Fabian - artesão e que ressou sua flauta em prol do teatro de rua
Carol- que nos ajudou muito nas indas e vindas com caixa de som
Diana Matos- cantora e atriz que afinou o coro dos descontentes-Cia chegança
Eliaquim Maia- batucando, fotografando, compartilhando...
e mais dois companheiros da HUHUHU que , desculpe-me mais não sei o nome
Acho que não esqueci ninguem não é?
Salve o Teatro de Rua!
Valeu Rede de Artes Cênicas do Maranhão
Valeu Movimento de Circo e teatro de Rua no Maranhão
abração
Raquel Franco
atriz, Palhaça e historiadora
http://brincantenarua.blosgpot.com
domingo, 22 de agosto de 2010
CIRCULUZ BRINCANTE NO 2° FESTIG - FESTIVAL DE IGARASSU

Começa dia 03 de Setembro de 2010, uma programação para todos gostos, teatro para adultos, infancia, teatro de Rua, Teatro de Bonecos, Exposições, Leitura Dramatizada, oficinas e muito mais. Confira a programação que vai até o dia 12 de setembro.
O 2º FESTIG – Festival de Teatro de Igarassu é uma ação cultural voltada para o município de Igarassu objetivando divulgar a produção teatral realizada na Cidade, no Estado de Pernambuco e em outros Estados. Trata-se de um projeto de fortalecimento para os grupos de teatro, onde se pretende além das apresentações de espetáculos teatrais, realizar Oficinas, promovendo assim, a formação e o encontro de artistas. O movimento teatral no Estado de Pernambuco, vem se consolidando, possibilitando as cidades à inserção no calendário cultural do país. A Cidade de Igarassu através de seus artistas e grupos de teatro se registra hoje como um celeiro artístico.
O Festival promove o intercâmbio com diversas cidades, participam trabalhos reconhecidos de várias regiões do País, este ano o evento conta com a presença de grupos da Cidade de Igarassu/PE, Olinda/PE, Limoeiro/PE, Vitória de Santo Antão/PE, Jaboatão dos Guararapes/PE, Recife/PE, Porto Alegre/RS, São Luiz/MA, João Pessoa/PB, Santa Luzia-Jaraguá do Sul / SC, possibilitando estudantes, artistas, educadores e público geral a ter acesso aos espetáculos e as oficinas, fomentando assim o teatro e contribuindo culturalmente para a cidade de Igarassu e para Pernambuco. A segunda versão é também a oportunidade para garantirmos a população sedenta de arte, o acesso gratuito a espetáculos, como bens de consumo, e particularmente a espetáculos teatrais de qualidade. O festival é uma realização do Grupo Teatral Ariano Suassuna, e tem a produção de André Ramos, o 2º FESTIG tem o Incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Educação e Governo do Estado.
sábado, 21 de agosto de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Maranhão Adentro

em São Bento relizamos as oficinas numa quadra esportiva para jovens do Grupo Perizes de teatro e dança e para outros vindos de uma cidade proxima São João Batista. muitas descobertas pra mim e para eles foi fortalecedor fiz amigos para lembrar sempre.


Amigos e novos palhaços e palhaças: Bolacha, Fuá, Tunel, Omelete, Imbira, Minhoca e Vareta as novas fulôs de São bento
As apresentações foram otimas o teatro de rua ocupando as praças destas cidades as pessoas chegando e chegando e chapéu rodando que tinha dava e quam não tinha ria...
Keke kerubina fazendo ciranda do mundo girar...
São 14:26 do dia 28 de abril de 2010
Agora conversando um pouco sobre Arari
cidade de rios, do belo e envolvente rio pindaré com sua Pororoca e tudo mais...conheci artistas de diferentes grupos desta cidade e tambem anônimos artistas, como Pilica ou Maicon Gay
Bem, foi uma semana intensa de muita correria, como eles dizem por la: de muitos babados e aquers! RSRSR! e conseguimos realizar nossa missão nesta cidade.
Na oficina a galera saiu subindo no tecido muito bem, a palhaçaria linda, profundos palhaços e palhaçs, cada um com sua poetica. Bela de ver e descobrir.
Palhaços e Palhaças de Arari um grande abraço galera a gente se ve
na Praça da Santa e na Praça do Folclore Circuluz Brincante fez rodas de arrepiar, tems ido uma escola pratica essa intinerancia...
Vou colocar aqui fragmentos dos relatos que recebi de Samara Volpony atriz e dançarina da Cia Impacto de arari que é nossa parceria nesta circulação e de Edilson ator e dançarino da Cia Mistura tambem de Arari
Nada melhor que suas palavras para termos uma ideia desse encontro
"Comemoramos nesse mesmo dia nosso primeiro aniversário de Palhaços, onde fomos batizados palhaços e palhaças: Maguila, macarrão, torradinha, Pouca Roupa, Pilica...
Compreedemos que todos somos semeteiros, semeadores, e semeados, que o movimento artístico precisa unir forças.
somos nos que bombeamos sangue a todos os outros...
Em dois dias ficarão na historia de Arari, de cada um daqueles que vidraram, sorriam, que passavam e que temiam ás brincandeiras da palhaçs keke kerubina rosa vermelha do jardim da vida que muita vida e cura trouxe através do riso..." (Samara Volpony atriz e dançarina da Cia Impacto de Arari)
AGORA EM AÇAILANDIA
Em Açailandia contamos com o apoio do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, um espaço que alem de promover a luta e combate à violência contra criança também combate o trabalho escravo e desenvolve atividades culturais com grupos de teatro e dança.
Assim, nosso intercambio aconteceu justamente com estes grupos do Centro de Defesa dos Direitos Humanos. As oficinas aconteceram no próprio espaço deles, onde existe uma ampla sala de dança e ensaios.
Tivemos também na oficina uma participante pertencente a uma família circense, e que sabendo do Projeto se interessou em fazer a oficina de Tecido Circense aparelho que ela ainda não utilizava em no Circo da Alegria do qual faz parte e que se encontrava instalado em Açailandia.
As apresentações de Circuluz Brincante foram realizadas na Praça do Pioneiro e na Praça da Bíblia, na primeira tivemos a oportunidade de realizar o espetáculo conjuntamente com o ato publico pelo dia do Trabalhador, uma ação do Centro de Defesa, que é parceiro do Projeto, assim, tivemos um público formado não apenas por moradores locais, famílias como também os trabalhadores, militantes do movimento sem terra, trabalhadores e lideres rurais.
Foi um encontro renovador para o espetáculo e de muita aprendizagem, Nesse sentido começamos a perceber que muitos dos elementos estéticos e simbólicos do trabalho, já eram novos para este público, estávamos adentrando novas formações humanas com outras tradições, um outro Maranhão dentro do Maranhão.
O Cazumbá, por exemplo, era um personagem distante do imaginário da população de Açailandia, claro que muitos já ouviram falar, ou já viram, porem não era parte de sua construções culturais e identificatórias como na baixada maranhense.
Esta mesma característica aconteceu em Balsas e um pouco menos em Imperatriz.
IMPERATRIZ
A cidade de Imperatriz é considerada a segunda maior cidade do Maranhão, localizada no cerrado brasileiro, é uma cidade a margem do Rio Tocantins
Por se tratar de uma cidade maior que as demais por onde já havíamos passado, resolvemos descentralizar ainda mais as apresentações. Por isso realizamos o espetáculo em uma comunidade afastada e outra apresentação no centro de Imperatriz.
Na comunidade reuniu-se uma multidão formada de crianças, adultos, idosos e famílias em geral. Percebemos o euforismo com cada cena, cada episódio das gag’s e cenas de keke. Enquanto que no centro há brincadeira, descontração, mais não de forma tão intensa, como a identificada na comunidade.
Mostrando-nos a raridade que é essas apresentações nestes locais e como a atuação lá é importante.
A outra apresentação fizemos na Beira rio, local no centro de Imperatriz, com muito fluxo de famílias e crianças, um local mais turístico, assim o nível de interação e a reação da platéia as cenas se apresentou de outra forma.

BALSAS
Ao termino de nossos objetivos em Imperatriz nos encaminhamos para Balsas ainda mais ao sul do Maranhão terra de cerrado hoje ocupada pela atividade da soja. Foram mais de 7 horas de viagem ate chegarmos em Balsas.Lá tivemos o apoio da Cia. HUHUHU de Circo e Teatro, único grupo teatral da cidade
Em Balsas nos focamos na zona de rural, região denominada de Ingá, durante dois dias conversamos e trocamos conhecimentos sobre o fazer cênico na rua, de cada grupo. Assim, não realizamos uma oficina aberta à comunidade como nas outras 04 cidades, mas debatemos e realizamos intercambio teórico dos nossos espetáculos.
Lá não tínhamos luz elétrica, assim refletíamos sobre os meios de continuar desenvolvendo o teatro e o circo tendo como opção sua pratica na zona rural, especificamente dentro do cerrado.
TODO ESSE TEMPO QUE PASSAMOS NA ESTRADA ME FEZ SENTIR E PERCEBER QUE É NESSES CAMINHOS, CURVAS E REENTRANCIAS , QUE O ARTISTA PRECISA ESTAR, NÃO ME ENCHE O CORAÇÃO E OS OLHOS ESTAR EM CARTAZ EM UM GRANDE TEATRO, MAS ME CONVIDE PRA PEGAR A MALA DE KEKE E IR PARA O CHÃO DE TERRA BATIDA OU PARA PROXIMA PRAÇA DESSE MUNDÃO.
AI MAIS EU VOU, TENDO O MINIMO DE DIGNIDADE PARA REALIZAR MINHA ARTE E TENDO O NECESSARIO PARA ASSIM CONTINUAR.
EU TO DENTRO!
E NESSA CAMINHADA SURGIU ESSA CANTIGA:
Eu sou nega catirina
mulher de raça e de fibra
eu sou filha é da lua
brincante na vida
brincante na rua
eu cheguei nesse terreiro
que é a rua ou é a terra
com uma fulô no peito
pro ferta pre ça plateia
axé!

domingo, 31 de janeiro de 2010
Mensagem de Miguel Arcanjo

Enquanto os ventos da mudança continuam a varredura por cada faceta de vida na Terra, eu, Arcanjo Miguel, me coloco diante de vocês como um amigo, professor e servo de um campo unificado de consciência o qual sustenta toda a criação. Se vocês permitirem, poderão sentir minha presença tocando seu coração, lembrando-lhes que agora é a hora de revelar o presente que carregam.

Essa inércia manteve o foco em vocês. Serviu para manter uma identidade que girava em torno de “eu, eu, eu”. Vocês se tornaram vítimas de seu próprio processo de cura.Nós compartilhamos esse ponto de vista com vocês porque em seu horizonte está outro grupo bem maior de almas. Eles estão de fato vivendo na Terra e justamente se tornando conscientes dessas sementes sagradas. Nós vemos esse grupo enumerando entre os milhões, sentido essa urgência em mudar, com muitas questões sem resposta.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Comentário Critico de Jussara Trindante sobre Espetáculos da Mostra Matraca de Teatro de Rua
Gostaria de começar o ano compartilhando com todos uma pequena parte da feliz experiência de participar, como pesquisadora, do II Encontro Matraca de Teatro de Rua do Maranhão. O evento foi realizado em outubro de 2009 mas, de lá pra cá, a falta de tempo (principalmente) dificultou muito o compromisso de escrever sobre os espetáculos vistos, tarefa que venho tentando cumprir na medida do possível. Assim, peço desculpas pelo atraso e por não ter conseguido escrever sobre todos os espetáculos; entretanto, reafirmo o compromisso de tentar manter, mesmo que num ritmo vagaroso, o fluxo de textos, reflexões e comentários acerca das atividades de teatro de rua que porventura tenha a oportunidade de participar ou assistir.
Espero que os meus escritos possam dar uma ideia do belo trabalho realizado pelo Circo de Cidadania Palco e Picadeiro em São Luís. Parabéns a Afonso Barros, Dathy Bezerra, Diana Mathos e Michelle Cabral, a quem agradeço novamente a oportunidade e o carinho!
Parabéns ao incansável Luiz Pazzini e à valente Raquel Franco!
Abraços e bjs
Jussara Trindade
Alunos de Interpretação Teatral I - Curso de Licenciatura em Teatro da UFMA
A performance Sísifo in work foi realizada no primeiro dia do II Encontro Matraca de Teatro de Rua, em São Luís do Maranhão. No final da manhã, por volta das 11h sob o sol escaldante da Rua Grande, movimentado centro comercial da cidade, muita gente suada e apressada lutava por uma passagem nas calçadas estreitas; talvez estivessem em busca de presentes, já que nos aproximávamos do Dia da Criança, 12 de outubro. Eu procurava ansiosa por algum sinal de “atividade teatral”, pois não via nada além de gente e mais gente, até onde a minha vista alcançava. E a rua parecia não ter fim!
Então, avistei um grupo de atores que vinha pelo meio da rua, diretamente em minha direção. Muitos transeuntes acompanhavam o lento cortejo. À frente, alguns atores caracterizados como trabalhadores de diferentes profissões conduziam com muito cuidado um enorme pneu de trator; dentro dele, uma atriz equilibrava- se com dificuldade, enrolando o corpo na mesma forma circular. Logo atrás, jovens atores e atrizes dispostos em três fileiras paralelas vinham recitando em uníssono o poema Sísifo, de Heiner Müller. Estavam, também, caracterizados: operário, professora, médico, escriturário, vendedor, simples cidadão ou cidadã. Alguns vinham descalços, ou com partes do corpo à mostra. Nada, ali, evocava sensualidade. Era uma exibição de simples corpos-máquina. Revezavam entre si as posições assumidas na coreografia de movimentos repetitivos que sugeria o lento movimentar de uma engrenagem, talvez um mecanismo a empurrar penosamente a grande pedra-roda que o belo texto de Muller descreve com tanta poesia:
“Fazer rolar a pedra, sempre a mesma,
para cima do monte, sempre o mesmo” (...)
Impossível ficar indiferente àquela imagem poderosa e magnética, que atraía para si a atenção de todos. A visível dificuldade de equilibrar o pneu e a atriz dentro dele, a longa e difícil caminhada debaixo do sol inclemente, o calor, o suor, a sede e o cansaço, tudo embalado pelo texto adágio, repetido de novo e de novo desde o início, num círculo de eterno retorno ad infinitum, a performance conseguia provocar, no espectador, as sensações físicas contidas nas palavras do texto:
“o peso da pedra aumentando,
a força do trabalho diminuindo com a subida...”
E tornava terrivelmente verdadeiro o presumível desfecho da empreitada:
“Esperança e decepção. Arredondamento da pedra.
Desgaste recíproco de homem, pedra, monte. Até o clímax sonhado.”
Alguém perguntou, do meu lado: “É greve?” E alguém respondeu: “Parece que é só teatro...” Uma senhora indignada exclamou alto, da calçada: “É isso mesmo! A gente trabalha, trabalha, e a força vai só diminuindo, até a gente envelhecer”. Muitos comentavam, observavam, acompanhavam, tão compenetrados quanto os atores. O público demonstrava grande respeito pela performance, talvez por identificação com o tema ou mesmo pela total concentração e seriedade dos atores. Percebia-se uma alteração no ato de caminhar dos transeuntes, transformados momentaneamente em espectadores- atuadores. Vários entravam em sintonia rítmica com o deslocamento do grupo, e passavam a andar lentamente a seu lado. O público aceitava a interferência, admitindo uma ressignificação temporária daquele lugar e modificando, propositalmente, o seu frenético movimento cotidiano.
Apenas alguém não teve a mínima sensibilidade para com o esforço sobre-humano de Sísifo: como um sintoma da grave doença urbana que tenta, de todas as maneiras, subtrair o espaço público do cidadão, foi justamente o motorista de um carro-forte, desses que levam “valores” pela cidade, quem mais se impacientou com a lentidão do cortejo e ficou ameaçadoramente atrás da última fileira, acionando a sirene bem perto dos atores e exigindo que a performance lhe “abrisse passagem”. Ironicamente, o caminhão exibia o letreiro “CEFOR – segurança e informação” na couraça blindada. O diretor Luiz Pazzini, que vinha com um megafone ao lado do grupo, trajando macacão e capacete de operário, ainda resistiu por algum tempo; mas a situação foi ficando insustentável e, finalmente, ele conduziu a performance para seu desfecho final, com os atores e atrizes recitando em uníssono o poema pela última vez, em círculo. Embora um tanto “doutrinário”, foi um final belo e emocionante.
São Luís, 08 de outubro de 2009
ESPETÁCULO CIRCULUZ BRINCANTE – Raquel Franco e Tapete Criações Cênicas
Era um espaço calçado, num canto da Praça Deodoro, em São Luís. Ao lado havia um Ponto de Táxi onde alguns homens conversavam, aguardando clientes sob as árvores. Ali, foi montada uma estrutura metálica muito alta de onde pendia um tecido vermelho, até então amarrado numa das “pernas” laterais. Em seguida, já como a palhaça Keke Kerubina, Raquel Franco andava de um lado para o outro conversando com o público, em sua maioria crianças sentadas em semicírculo, onde a generosa sombra das árvores amenizava um pouco o sol escaldante. Era bom ver aquela figura cheia de doçura andando de lá para cá com seu enorme vestido sobre uma malha de listras horizontais e imensos sapatos coloridos que lhe davam o caminhar desajeitado dos palhaços. Andar esquisito, com os joelhos subindo mais do que o normal a cada passo, como se andassem num terreno pegajoso ou alagado. Com esse andar já meio caindo, os palhaços estão sempre brincando com o equilíbrio – ou a falta dele. E assim vão, caminhando torto e desengonçado pela vida afora. Fazendo os seus sempre estranhos afazeres, em eterno desequilíbrio. Esse é um dos segredos do palhaço: ficamos esperando ele tropeçar para rirmos dele... e ele sabe que a gente sabe, e fica esperando o momento exato de uma distração nossa para só então tropeçar e fazer a gente rir! Todos sabemos que o palhaço vai errar, tropeçar, cambalear; mas ele sempre consegue pegar a gente de surpresa. Ele é o dono do jogo, mesmo que seja o jogo de errar tudo. A sua arte reside em brincar com a instabilidade, com o movimento perpétuo, com o desequilíbrio que leva à necessidade de se inventar um novo equilíbrio; em desafiar o mundo “normal” em que as coisas estão – ou deveriam estar - firmemente assentadas em seus devidos lugares.
Então Keke pendura uma rede – invenção da mais pura genialidade indígena-nordestina- brasileira - na grande estrutura, deita, deixa todo mundo com inveja daquele conforto. De repente, pega uma almofada e... voilá! A almofada vai para baixo do vestido e vira uma barriga enorme. Keke, a palhaça, está grávida! E vai parir ali mesmo, na praça, diante de todos! Segurando a barriga com uma mão e gesticulando com a outra, caminhando já quase em posição de parto, Keke vai puxando assunto com os espectadores, perguntando pelo pai da criança e dando muitos motivos para a meninada “zoar” de algum amigo, entrando com gosto na brincadeira tão séria de descobrir “quem é o pai da criança”. Parodiando o ritual sagrado do parto, com o auxílio confuso do “pai” encontrado entre os presentes – um garoto do público - Keke dá à luz ali mesmo, na rede. Aparecem dois bebês “que já nascem artistas” e se deixam rodopiar pelo ar nas mais doidas estripulias, levados pelo cordão que “mamãe” manipula com maestria. São dois carretéis: um maior, que é o mais velho, e um menor, o caçula. Enquanto rodopiam pelo ar, Keke conversa com seus “rebentos”, incentivando os pimpolhos em suas aventuras. A cada giro, uma expressão de afeto e orgulho. Nada de medo, só aceitação e encorajamento. Naqueles poucos minutos, a atriz consegue despertar no público a ternura que somente as crianças pequenas são capazes de ver nos objetos inanimados. Dotados agora de vida, os carretéis transformam- se em criancinhas esforçadas, em pleno aprendizado do ofício circense. A palhaça apresenta não apenas um número de destreza com esses “materiais de cena”, como se esperaria desse tipo de apresentação. Há ali, também, uma dramaturgia, uma cena teatral, onde três membros da mesma família interagem criando expectativa na platéia, arriscam um movimento mais complexo, erram e tentam novamente, estimulam-se mutuamente, exibindo sua performance. Não é apenas Keke, mas toda a “Família Keke” em cena. A artista se multiplica, a magia do circo se espalha nos rostos sorridentes; crianças e adultos, somos agora todos crianças e desejamos Keke como nossa mãe – protetora, confiante, brincalhona, capaz de rir de nossos pequenos erros e de estimular-nos a tentar de novo, e de novo, de outro jeito.
Depois do Gran finale, em que um movimento mais arriscado do pequenino equilibrista arranca calorosos aplausos da assistência, Keke solicita a uma espectadora que seja sua colaboradora, no número seguinte. Agora, ela organiza o espaço de ação e inspeciona os equipamentos, porque irá realizar a perigosa façanha de subir pelo tecido. Novamente, a artista surpreende pela originalidade que confere à apresentação, fazendo dessa conhecida técnica circense uma performance teatral. Pede à moça que leia, diante de um microfone de pedestal, um roteiro que deverá ser cumprido rigorosamente, orientando a tarefa “de grande perigo e impacto”. E assim vai, seguindo cada instrução, não sem antes confundir as pernas ou a posição dos braços; repete lentamente e em voz alta as palavras de sua partner simulando atenção, mas erra sempre em algum detalhe, levando os pequenos espectadores aos berros, na tentativa de alertarem a atrapalhada ginasta. A subida é penosa; e Keke a valoriza ainda mais com a lentidão e os “erros” que a fazem repetir tudo novamente; seu “pânico” aumenta a cada metro galgado. No final, a queda perfeita em giro, com o tecido desenrolando de seu corpo e... tcham tcham! Eis Keke de volta ao chão, sã e salva! Ela passa o chapéu (aliás, o carretel) e ninguém escapa: espectadores, taxistas, transeuntes e casais de namorados que assistiam, do outro lado da praça, à apresentação. Poucas vezes, num espetáculo de rua, o “chapéu” me pareceu tão simbólico; que pagamento estaria à altura de tanta ternura em cena?
Recentemente, mais e mais pesquisadores têm-se dedicado ao estudo da complexa arte do palhaço. Para além das técnicas circenses - inúmeras e imprescindíveis - esta figura milenar transcende com sua magia quaisquer distâncias espaciais e temporais, percorrendo sob incontáveis formas todas as culturas do globo, das mais antigas às contemporâneas. O que explicaria o fascínio que o palhaço exerce sobre nós? Na busca de uma possível resposta, recorro a Carl Gustav Jung, psicanalista e discípulo dissidente de Freud que estudou profundamente as imagens criadas pela psique humana, registradas nas produções artísticas e religiosas de diferentes culturas, em também diferentes lugares e épocas. Com base nessas investigações, Jung formulou a sua teoria do Inconsciente Coletivo, a partir da qual buscou alcançar a lógica interna de fenômenos humanos e sociais até então considerados incompreensíveis: os sonhos, os mitos, a religião, a guerra. Jung e seus seguidores também pesquisaram ciências simbólicas como a Alquimia, o I Ching e as antigas cartas do Tarot. Este último é particularmente interessante para nós, pois permite-nos compreender a figura do palhaço como uma personificação do Arcano (ou carta) Zero - o Louco. No baralho moderno ele sobrevive como o Coringa, carta sem propósito específico, mas que paradoxalmente serve a todas as funções, tal como o número que o rege. Assim como o Louco e o palhaço, o Coringa liga dois mundos: o cotidiano e o da imaginação. Ou, ainda, estabelece uma passagem entre o oceano caótico do Inconsciente Coletivo e a terra firme da consciência. Por isso, sua marca é a ambivalência entre sabedoria e desatino. É o Louco interior quem nos empurra para a vida, pois a sua energia varre tudo o que estiver à frente, como um vento forte carrega as folhas secas pelo ar. Ele gosta do risco e não da segurança; ama a liberdade, deseja viver a vida com espontaneidade; o mundo é a sua casa. O Louco é andarilho porque sabe que o conhecimento está no mundo. Mas, ainda que eternamente errante, confere-se ao Louco um papel especial na ordem social, porque seu impulso é o que move a humanidade.
Na Idade Média, era tarefa do Bobo da corte – uma outra das inúmeras faces do Louco - lembrar ao rei a sua insanidade, a finitude da carne, o pecado da arrogância e do orgulho. E o palhaço de hoje cumpre ainda as mesmas funções, tanto nas “cortes palacianas” atuais, como nas ruas do mundo. Como Saltimbanco, Arlequim, Carlitos, Palhaço da Folia de Reis ou Cazumbá, o arquétipo do Louco continua movendo-se fora do espaço e do tempo, com o espírito habitado pela profecia e pela poesia, inspirando em segredo os artistas de todos os tempos. Acho que vem daí o fascínio do palhaço; talvez precisemos dele, mais do que ele de nós! Como as sábias palavras de Márcio Libar, encontradas numa abertura ao acaso, do seu livro A nobre arte do palhaço: “meu palhaço me cura todos os dias...” Por isso, rogo a todos os Cuti-Cuti, Picolinos, Carequinhas, Grandes e Pequenos Cafés, Marias, Margaritas, Palitas, Kekés Kerubinas e tantos outros palhaços e palhaças, que continuem suas andanças pelo mundo curando as feridas do nosso triste cotidiano, com suas graças demasiadamente humanas e sua Graça imensamente divina.
São Luís, 10 de outubro de 2009

terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Virá da Palhaçada 2009 - Mostra de Circo e Teatro de Rua
palhaç@s manga rosa, fulustreca e biruta

Apresentação no terminal do integração do espetáculo "Um Dia de Clown" com Gilson Cesar
Cia Circense de Teatro e Bonecos
Palco do Circo da Cidade repleto de palhaço
no dia 10 de Dezembro
valeu galera!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Palhaço Umbigulindo na perna de pau durante Cortejo
A nova geração Biluca fafa e Biloca
Cena do espetáculo Brinquedo Circense - Tapete Criações Cênicas
